Tether, a maior empresa de ativos digitais do mundo, adquiriu uma participação de 70% na empresa agrícola sul-americana Adecoagro por aproximadamente $600 milhões como parte de um esforço estratégico para integrar sua stablecoin no comércio global de commodities de trilhões de dólares. A aquisição representa uma expansão significativa das empresas de criptomoedas em mercados de ativos físicos tradicionais, com a Tether visando revolucionar os sistemas de pagamento transfronteiriços que atualmente levam dias para completar transações.
O que saber:
- Tether adquiriu 70% da Adecoagro, que produz leite, arroz, açúcar e etanol na Argentina, Uruguai e Brasil
- A empresa planeja usar sua stablecoin USDT para reduzir o tempo de pagamento de commodities de dias para segundos
- Tether utilizará energia renovável das operações agrícolas para alimentar atividades de mineração de bitcoin
Integração estratégica de moeda digital em mercados físicos
A Adecoagro, listada em Nova Iorque, concordou com o acordo em abril, vendendo sua participação majoritária para a gigante das criptomoedas em uma transação que sinaliza o crescente interesse da indústria em ativos tangíveis. A empresa agrícola opera em vários países da América do Sul, produzindo laticínios na Argentina, arroz no Uruguai, e açúcar e etanol no Brasil.
Joe Sticco, CEO da Cryptex Finance, observou que a indústria de criptomoedas está cada vez mais focada em conectar finanças digitais com ativos tangíveis.
Ao adquirir ativos geradores de renda como fazendas e plantas de processamento de alimentos, a Tether poderia fortalecer seu balanço patrimonial enquanto fornece uma proteção contra a inflação. O movimento representa outro exemplo de como empresas de criptomoedas em rápida expansão estão diversificando em negócios físicos.
O principal negócio da Tether gira em torno do USDT, uma moeda digital lastreada principalmente em Títulos do Tesouro dos EUA e projetada para acompanhar o dólar americano. Lançada em 2014, a USDT experimentou um crescimento acentuado nos volumes de negociação à medida que o interesse em criptomoedas e os preços dos tokens aumentaram. A stablecoin oferece um método para efetuar pagamentos fora dos sistemas financeiros globais tradicionais, mantendo a estabilidade através de seu lastro em dólar.
Transformando pagamentos de commodities transfronteiriços
A empresa emitiu $143 bilhões em USDT e relatou $149 bilhões em reservas, incluindo $120 bilhões em Títulos do Tesouro dos EUA, de acordo com seu relatório do primeiro trimestre. Marcos Viriato, CEO da empresa sul-americana de tecnologia de criptomoedas Parfin, explicou que a Tether quer impulsionar o uso de stablecoins para pagamentos trans-fronteiriços, particularmente em mercados de commodities onde o potencial de crescimento parece substancial.
Os sistemas de pagamento tradicionais criam atrasos significativos em transações internacionais de commodities.
"Se uma empresa no Brasil vende commodities para alguém na Bolívia, o pagamento através de canais convencionais poderia levar mais de três dias," disse Viriato. "Com a USDT levaria segundos." Os custos operacionais também seriam consideravelmente menores que os métodos de pagamento convencionais.
A Parfin opera um projeto piloto com o terceiro maior banco do Brasil, o Banco Bradesco, onde exportadores brasileiros de commodities vendem produtos para clientes internacionais que pagam com stablecoins. O Bradesco então usa a infraestrutura da Parfin para converter USDT em moeda local, que é depositada nas contas dos exportadores. Este sistema demonstra a aplicação prática da criptomoeda no comércio tradicional de commodities.
A Tether respondeu à consulta da Reuters afirmando que seu "abordagem de investimento prioriza empresas que expandem nossa rede de distribuição e melhoram a utilidade do mundo real das stablecoins, sendo a Adecoagro um exemplo principal." A empresa está avaliando como as stablecoins podem melhorar a eficiência e a liquidez no comércio de commodities junto com a gestão da Adecoagro e especialistas da indústria.
Potencial de tokenização e aplicações de energia
A empresa de criptomoedas relatou financiar um negócio físico de petróleo cru entre uma grande empresa petrolífera e um comerciante de commodities usando liquidação em USDT, marcando a primeira transação desse tipo. A Reuters informou anteriormente que a Rússia usou criptomoedas no comércio de petróleo com a China e a Índia para contornar sanções ocidentais, enquanto a Venezuela buscou usar moedas digitais para fins comerciais.
Gracy Chen, CEO da troca de criptomoedas Bitget, sugeriu que a Tether poderia explorar a tokenização de commodities à medida que entra no setor agrícola. A empresa já opera um token de ouro que reflete o valor do ouro e é lastreado por reservas de ouro. Tokens semelhantes para açúcar ou milho poderiam ser usados para proteção ou como garantia em financiamentos pré-colheita.
"Na prática, eles estão transformando fazendas, usinas de açúcar e plantas de energia renovável em instrumentos financeiros programáveis," disse Chen. A Tether reconheceu ver "potencial significativo em explorar a tokenização de ativos do mundo real, incluindo commodities agrícolas," embora tenha enfatizado não ter planos imediatos de lançar tokens de açúcar ou milho.
Em vez disso, a empresa inicialmente usará sua aquisição para aplicações de energia renovável. A Tether planeja aproveitar a energia renovável produzida pelas operações sul-americanas da Adecoagro, incluindo eletricidade de usinas de cana-de-açúcar, para alimentar operações de mineração de bitcoin.
Considerações Finais
A aquisição da Adecoagro pela Tether representa um pivô estratégico em direção à integração da criptomoeda nos mercados tradicionais de commodities enquanto diversifica em ativos físicos. O acordo posiciona a empresa para potencialmente transformar sistemas de pagamento transfronteiriços no comércio global de commodities de trilhões de dólares através de sua infraestrutura de stablecoin estabelecida.