Os emissores de stablecoins Tether (conhecido por USDT) e Circle (emissor do USDC) acumularam discretamente títulos do Tesouro dos EUA que excedem os de grandes economias como Alemanha, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos, marcando uma mudança significativa no cenário da dívida global à medida que as moedas digitais passam de ferramentas de negociação de criptomoedas para instrumentos financeiros convencionais.
O Que Saber:
- Tether possui mais de $100 bilhões em títulos do Tesouro, sendo o 18º maior detentor de dívida dos EUA globalmente, enquanto Circle mantém $45-55 bilhões em T-bills
- A capitalização de mercado combinada das stablecoins atingiu $270 bilhões e pode crescer para $2 trilhões até 2028, criando uma demanda sem precedentes por títulos do governo dos EUA
- Detentores estrangeiros tradicionais como a China estão reduzindo suas posições em tesouros, criando uma oportunidade para emissores de stablecoins preencherem a lacuna como compradores consistentes
A Dominação do Dólar Digital Ganha Forma
O rápido ascensão das stablecoins representa mais do que apenas o crescimento das criptomoedas. Esses tokens digitais, atrelados ao dólar dos EUA e respaldados por reservas mantidas principalmente em títulos do Tesouro, transformaram-se de instrumentos de negociação de nicho em sérios concorrentes nas finanças globais. A recente aprovação do ato GENIUS legitimou seu uso, estimulando o interesse de bancos, processadores de pagamento e empresas Fortune 500.
A Tether, a maior emissora de stablecoins do mundo, agora comanda um portfólio de Tesouro que supera $100 bilhões. Isso posiciona a empresa como o 18º maior detentor de dívida dos EUA em todo o mundo, superando a participação de $85 bilhões dos Emirados Árabes Unidos. A Circle, que emite o USDC, mantém entre $45 bilhões e $55 bilhões em T-bills.
Os números tornam-se mais impressionantes quando comparados individualmente. As participações da Circle sozinhas superam a posição de aproximadamente $75 bilhões em títulos do Tesouro da Coreia do Sul. Combinadas, essas duas empresas controlam mais dívida dos EUA do que Alemanha, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos juntos.
Forças do Mercado Impulsionam Crescimento Sem Precedentes
Os volumes de transação das stablecoins já superaram os da Visa, impulsionados principalmente pelo comércio de criptomoedas, mas cada vez mais por transferências globais de dinheiro. Um relatório recente da BeInCrypto descobriu que 49% das instituições agora usam stablecoins para várias operações financeiras.
O atrativo reside nas vantagens práticas. A liquidação quase instantânea e as taxas mínimas posicionam stablecoins como alternativas aos sistemas de pagamento tradicionais como SWIFT. Esse potencial chamou a atenção de grandes players, exemplificado pela aquisição de $1,1 bilhão da Stripe pela startup de stablecoin Bridge em outubro.
A capitalização de mercado do USDC sozinha disparou 90% no último ano, atingindo $65 bilhões.
O IPO de alto perfil da Circle em junho acelerou a adoção institucional. O mercado mais amplo de stablecoins agora representa $270 bilhões em valor total.
Projeções da indústria sugerem que essa cifra poderia chegar a $2 trilhões até 2028. Um relatório da Apollo observou que tal crescimento "aumentaria significativamente" a demanda por títulos do Tesouro, embora alertasse sobre "riscos de estabilidade financeira porque o dinheiro será movimentado rapidamente se os depositantes perderem confiança em um emissor de stablecoin."
Detentores Tradicionais Recuam enquanto Players Digitais Avançam
A ascensão dos emissores de stablecoin coincide com detentores estrangeiros tradicionais reduzindo suas posições em títulos do Tesouro. As participações da China caíram de mais de $1 trilhão há uma década para $756 bilhões hoje. O Japão, mantendo sua posição como o maior detentor estrangeiro com $1,13 trilhão, sinalizou uma abordagem mais cautelosa.
Este recuo cria oportunidades para empresas de stablecoin servirem como fontes consistentes de demanda por títulos do Tesouro. Yesha Yadav, professora de Direito da Universidade Vanderbilt estudando criptomoedas e mercados de títulos, disse à Fortune que "ter emissores de stablecoin sempre presentes é um impulso enorme em termos de dar confiança ao Tesouro [Departament] sobre onde colocar a dívida."