Bitcoin, que já foi a moeda indiscutível para transações ilícitas, experimentou um declínio dramático em sua dominância na dark web. Sua participação em atividades ilegais de criptomoeda despencou de 97% em 2016 para meros 19% em 2022, de acordo com um relatório abrangente da TRM Labs.
A queda projetada parece ainda mais acentuada para 2024, com previsão de Bitcoin representar apenas 12% das atividades ilegais de criptomoeda. Tron agora ocupa a posição de líder com 58%, enquanto stablecoins capturaram 63% do volume total de transações ilícitas, com base em descobertas separadas da Chainalysis.
"A solução Bitcoin deveria estar lá apenas para ajudar na transição para XMR e, no que nos diz respeito, está concluída, portanto, agora somos somente Monero, conforme planejado," afirmou o White House Market, um dos maiores mercados da dark web que parou de aceitar Bitcoin em 2020.
A transparência do Bitcoin se tornou sua maior responsabilidade em empreendimentos criminosos. A blockchain da criptomoeda funciona como um livro-razão público onde cada transação é registrada e visível, tornando-a cada vez mais vulnerável ao rastreamento por agências de aplicação da lei. Quando combinada com dados adicionais como endereços IP ou registros de exchanges, as transações podem ser rastreadas com precisão significativa.
Essa limitação fundamental permitiu que agências como o FBI usassem efetivamente ferramentas de análise de blockchain de empresas como Chainalysis e Elliptic. Seus esforços resultaram no desmantelamento de grandes mercados da dark web, incluindo o fechamento do Silk Road em 2013, AlphaBay em 2017, Hydra em 2022 e Incognito Market em 2024.
Desafios técnicos diminuem ainda mais o apelo do Bitcoin em mercados ilícitos. Altas taxas de transação e tempos de confirmação lentos o tornaram menos prático para certos tipos de atividades ilegais. Moedas de privacidade como Monero, Zcash e Dash preencheram esse vazio aproveitando tecnologias avançadas que garantem altos níveis de anonimato, tornando o rastreamento de transações extremamente difícil para as autoridades. Pesquisas da ScienceDirect estabeleceram uma forte correlação entre moedas de privacidade e tráfego na dark web, reforçando sua popularidade crescente em mercados ilícitos.
A mudança apresenta uma dualidade complexa para o ecossistema de criptomoedas. O papel decadente do Bitcoin em atividades ilegais pode, em última análise, melhorar sua reputação como um instrumento financeiro legítimo, potencialmente levando a uma maior aceitação entre usuários e investidores convencionais. Essa transformação poderia acelerar sua integração nos sistemas financeiros convencionais.
No entanto, a migração para moedas de privacidade e stablecoins criou desafios significativos para a aplicação da lei. Apesar do desenvolvimento de ferramentas sofisticadas de análise de blockchain capazes de detectar trilhas de transações através de mixers e tumblers, rastrear criptomoedas focadas em privacidade como Monero permanece excepcionalmente difícil. Em julho de 2024, pesquisadores da Elliptic descobriram US$ 11 bilhões em negociações ilícitas usando USDT no mercado Huione Guarantee do Camboja, destacando a dimensão do problema. No mesmo mês, a aplicação da lei japonesa fez a primeira prisão do país ligada à análise de transações de Monero, marcando um potencial avanço no rastreamento de moedas de privacidade.
As respostas regulatórias têm variado globalmente. Alguns países implementaram proibições totais sobre moedas de privacidade, enquanto stablecoins têm sido submetidas a uma supervisão cada vez mais rigorosa. O equilíbrio entre inovação tecnológica e controle regulatório continua a evoluir à medida que as autoridades lutam para manter a transparência e a segurança em ecossistemas financeiros digitais.
A transição do Bitcoin para moedas de privacidade e stablecoins em transações na dark web representa uma tendência clara impulsionada pela demanda criminal por anonimato e eficiência. Enquanto o Bitcoin mantém relevância em certos crimes relacionados a criptomoedas, sua transparência inerente o tornou cada vez mais inadequado para usuários que buscam evitar a detecção. Enquanto isso, alternativas focadas em privacidade emergiram como a escolha preferida para aqueles que operam fora da lei, criando um jogo contínuo de gato e rato entre criminosos e as autoridades encarregadas de rastreá-los.