Strategy, a maior detentora corporativa de Bitcoin do mundo, afirma que seu balanço poderia suportar uma queda catastrófica do Bitcoin para US$ 25.000 – 66% abaixo de seu preço médio de compra – mesmo enquanto a empresa enfrenta pressão crescente com uma potencial exclusão dos índices MSCI, que poderia desencadear até US$ 8,8 bilhões em vendas forçadas.
A companhia enfatizou sua resiliência financeira por meio do que chama de sistema de “BTC Rating”, que mede a cobertura de colateral em Bitcoin em relação às obrigações de dívida. Aos preços atuais do Bitcoin, próximos de US$ 87.000, as 649.870 BTC da Strategy, avaliadas em aproximadamente US$ 56,5 bilhões, oferecem uma margem de colateral de 6,9 vezes em relação aos seus US$ 8,2 bilhões em dívidas conversíveis. Mesmo em um cenário de pior caso, com o Bitcoin a US$ 25.000, a relação ativos/dívida permaneceria em 2,0 vezes, segundo a empresa.
“Se o BTC cair para nosso custo médio de US$ 74.000, ainda teremos 5,9x em ativos em relação à dívida conversível, o que chamamos de BTC Rating da nossa dívida. A US$ 25.000 por BTC, seria 2,0x”, publicou a empresa no X, antigo Twitter. A declaração vem enquanto as ações da Strategy despencaram 49% em relação ao pico de outubro, sendo negociadas em níveis vistos pela última vez no fim de 2024. A empresa, que se rebatizou de MicroStrategy para Strategy em fevereiro de 2025, agora enfrenta seu desafio estrutural mais significativo: a possível remoção dos principais índices de ações.
O que aconteceu
A Strategy detém 649.870 BTC adquiridos a um custo médio de US$ 74.433 por bitcoin, totalizando um investimento de US$ 48,37 bilhões, de acordo com documentos corporativos protocolados em 17 de novembro. Aos preços atuais, isso representa aproximadamente US$ 13 bilhões em ganhos não realizados, tornando a Strategy a maior detentora corporativa de Bitcoin no mundo, com mais de 3% de toda a oferta de Bitcoin.
A estrutura de capital da empresa inclui US$ 8,214 bilhões em dívidas conversíveis com vencimentos entre 2028 e 2032, com BTC Ratings individuais variando de 7x a mais de 50x de cobertura. Abaixo da camada de dívida está US$ 7,779 bilhões em ações preferenciais distribuídas em cinco séries: STRF (Strife), STRC (Stretch), STRE (Stream), STRK (Strike) e STRD (Stride). Esses títulos preferenciais perpétuos pagam dividendos anuais entre 8% e 10,5%.
Somadas, as obrigações totais da Strategy chegam a aproximadamente US$ 15,993 bilhões. Aos preços atuais do Bitcoin, essas obrigações são suportadas por um BTC Rating consolidado de 3,6x, o que significa que a empresa detém mais de três vezes e meia o valor de suas obrigações em ativos denominados em Bitcoin.
O cálculo de resiliência parte da hipótese de o Bitcoin cair para US$ 25.000 – uma queda de 71% em relação aos níveis atuais e 66% abaixo do preço médio pago pela Strategy. Nessa avaliação hipotética, os 649.870 BTC da Strategy valeriam US$ 16,2 bilhões, ainda o dobro de suas obrigações em dívidas conversíveis de US$ 8,2 bilhões.
No entanto, o desafio mais amplo se intensificou em 20 de novembro, quando a MSCI anunciou que está considerando regras que excluiriam de seus índices de referência empresas cujos ativos digitais excedam 50% do total de ativos. As participações em Bitcoin da Strategy representam aproximadamente 77% do seu balanço, colocando a empresa diretamente na mira da mudança regulatória proposta.
Por que isso importa
A decisão da MSCI, esperada para 15 de janeiro de 2026, pode desencadear vendas forçadas em massa por fundos passivos que replicam grandes índices. O estrategista do JPMorgan, Nikolaos Panigirtzoglou, estima que aproximadamente US$ 9 bilhões da capitalização de mercado de US$ 59 bilhões da Strategy estão provavelmente em investimentos passivos via ETFs e fundos mútuos atrelados a índices de referência.
“Com a MSCI agora considerando remover a MicroStrategy e outras empresas de tesouraria de ativos digitais de seus índices de ações… as saídas podem chegar a US$ 2,8 bilhões se a MicroStrategy for excluída dos índices MSCI e a US$ 8,8 bilhões de todos os outros índices de ações se outros provedores de índices decidirem seguir a MSCI”, escreveram analistas do JPMorgan em nota de pesquisa.
A empresa já havia sido excluída da consideração para o S&P 500 em setembro, apesar de cumprir os requisitos quantitativos de capitalização de mercado, liquidez e lucratividade. O comitê do índice escolheu Robinhood e AppLovin em seu lugar, citando preocupações com a exposição concentrada da Strategy em Bitcoin e com resultados altamente voláteis, determinados inteiramente pelos movimentos de preço da criptomoeda.
Somando-se aos desafios, a Strategy interrompeu, na semana passada, sua sequência de seis semanas consecutivas de compras de Bitcoin, pausando a acumulação à medida que o prêmio entre sua capitalização de mercado e o valor líquido de ativos colapsou em direção à paridade, em aproximadamente 1,16x – o menor nível deste ciclo, segundo a CoinDesk. Historicamente, esse prêmio foi negociado entre 2x e 3x durante mercados de alta, permitindo que a Strategy emitisse ações a avaliações favoráveis para financiar novas compras de Bitcoin. O presidente executivo Michael Saylor defendeu a estrutura da empresa em 21 de novembro, afirmando: “A Strategy não é um fundo, não é um trust e não é uma holding. Somos uma companhia operacional de capital aberto com um negócio de software de US$ 500 milhões e uma estratégia de tesouraria única que usa o Bitcoin como capital produtivo.”
Apesar da queda, a Strategy continua captando recursos por meio de sua plataforma de ações preferenciais. A empresa levantou US$ 20,8 bilhões em 2025 por uma combinação de US$ 11,9 bilhões em ações ordinárias, US$ 6,9 bilhões em ações preferenciais e US$ 2 bilhões em dívidas conversíveis, segundo registros regulatórios recentes.
Considerações finais
A afirmação da Strategy sobre a força de seu balanço contrasta fortemente com o desempenho de suas ações. Os papéis fecharam em torno de US$ 172–US$ 173 em 25 de novembro, queda de aproximadamente 68% em relação ao pico de 2025, acima de US$ 540. A empresa é negociada a cerca de 1,1x o valor de suas reservas de Bitcoin, o menor prêmio desde que iniciou sua estratégia de acumulação de Bitcoin em agosto de 2020.
A S&P Global Ratings atribuiu à Strategy um rating de crédito “B-” em outubro, citando “alta concentração em bitcoin, foco de negócios estreito, capitalização com risco ajustado fraca e baixa liquidez em dólares americanos”. A classificação reflete a capacidade atual da Strategy de honrar suas obrigações de dívida, mas reconhece risco significativo de default caso as condições de mercado piorem.
As obrigações anuais de dividendos e juros da empresa totalizam US$ 689 milhões, representando menos de 1% de suas reservas de Bitcoin aos preços atuais. Isso inclui US$ 35 milhões em despesas de juros sobre notas conversíveis (custo médio de 0,42%) e US$ 654 milhões em dividendos de ações preferenciais de suas séries STRF, STRC, STRK, STRD e STRE.
A Strategy também tomou medidas para diversificar o risco de custódia. A empresa de análise on-chain Arkham informou que a companhia transferiu 165.709 BTC, avaliados em US$ 14,5 bilhões, para a Fidelity Custody nos últimos meses, dividindo as reservas entre múltiplos provedores regulados, além de seu relacionamento de custódia já existente com a Coinbase.
Embora o balanço ancorado em Bitcoin da Strategy ofereça proteção substancial contra a volatilidade de preços, a decisão da MSCI representa uma categoria diferente de risco – vendas forçadas estruturais, desvinculadas da saúde financeira da empresa ou do valor fundamental do Bitcoin. A decisão de 15 de janeiro determinará se a Strategy continuará sendo um proxy de renda variável mainstream para o Bitcoin ou se será empurrada para a margem dos mercados públicos devido à sua concentração sem precedentes em ativos digitais.
Com o Bitcoin negociado próximo de US$ 87.000, a Strategy mantém um ganho não realizado de 16% em suas reservas. No entanto, uma queda abaixo de US$ 70.000 eliminaria completamente os lucros no papel, potencialmente gerando escrutínio adicional dos mercados de crédito e dos investidores em ações enquanto a empresa atravessa o período mais decisivo desde que o fundador Michael Saylor transformou a antiga empresa de software na primeira Bitcoin Treasury Company do mundo.
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