Citigroup, uma das maiores instituições bancárias do mundo, está ativamente explorando o lançamento de uma stablecoin proprietária para facilitar pagamentos internacionais, conforme confirmado esta semana pela CEO Jane Fraser.
O movimento marca um passo significativo na crescente integração das finanças tradicionais com ativos digitais, à medida que grandes bancos dos EUA e globais buscam competir com empresas nativas do cripto no mercado de stablecoins, que cresce rapidamente e já conta com US$ 250 bilhões.
Falando durante uma teleconferência de resultados na terça-feira, Fraser disse que o Citi está “considerando a emissão de uma stablecoin do Citi” e enfatizou o foco do banco em apoiar a infraestrutura em torno da gestão de reservas, conversão de dinheiro para moeda digital, e serviços de entrada e saída para clientes.
O desenvolvimento surge enquanto o Citi visa modernizar sua infraestrutura de pagamentos globais, que processa US$ 5 trilhões em fluxos transfronteiriços por dia, adotando tecnologias baseadas em blockchain.
“Nós realmente desejamos a disposição do governo em permitir que bancos participem mais facilmente no espaço de ativos digitais”, disse Fraser. “Clientes... querem pagamentos internacionais multimoeda, contínuos e disponíveis a todo momento para financiamento e liquidez.”
Envolvimento Crescente do Citi com Stablecoins e Blockchain
Esta não é a primeira incursão do Citi no espaço de stablecoins ou pagamentos tokenizados. O banco já opera o Citi Token Services, uma plataforma para depósitos tokenizados que permite pagamentos internacionais em tempo real e operações de financiamento comercial automatizadas. O serviço está atualmente ativo em quatro mercados e faz parte da estratégia mais ampla do Citi para agilizar os fluxos financeiros globais através do blockchain.
Ainda assim, o movimento para emitir uma stablecoin com a marca do Citi marcaria uma mudança mais ambiciosa, posicionando o banco como um concorrente direto a emissores de stablecoins existentes, como Tether e Circle, além de rivais como JPMorgan, Bank of America e Morgan Stanley, que estão em várias etapas de exploração de stablecoins.
Em maio, o The Wall Street Journal relatou que o Citi estava em discussões com JPMorgan Chase, Bank of America e Wells Fargo sobre o desenvolvimento conjunto de um token atrelado ao dólar, indicando apetite institucional para uma entrada coletiva no mercado de stablecoins. Embora esses planos ainda não tenham se materializado em um lançamento conjunto, o impulso individual de cada banco está acelerando.
A Corrida do TradFi em Direção às Stablecoins
A exploração do Citi surge em meio a uma onda de interesse em stablecoins por parte dos gigantes financeiros tradicionais:
- O CEO do Bank of America, Brian Moynihan, confirmou esta semana que o banco está ativamente desenvolvendo um projeto de stablecoin.
- O Morgan Stanley reconheceu em sua apresentação dos resultados do segundo trimestre que está avaliando os casos de uso de stablecoins para clientes institucionais.
- Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, sempre crítico vocal das criptos descentralizadas, continua expandindo o JPM Coin, o token de liquidação blockchain permissionado do banco.
Enquanto isso, Geoffrey Kendrick, chefe global de pesquisa de ativos digitais do Standard Chartered, projetou no início desta semana que o mercado de stablecoins poderia triplicar de tamanho até 2026, atingindo uma avaliação de mais de US$ 750 bilhões. Essa expansão traria stablecoins mais perto da adoção generalizada, especialmente como ferramentas para pagamentos, financiamento comercial e remessas — principais forças do setor bancário global.
Buscando Clareza Regulatória em uma Nova Era
Fraser enquadrou as ambições do Citi em relação às stablecoins dentro do contexto da regulamentação pendente nos EUA, que deve fornecer diretrizes formais para stablecoins emitidas por bancos até o final de 2025.
Embora as disposições exatas da legislação futura ainda estejam em fluxo, especialistas da indústria esperam um modelo de licenciamento em camadas, onde instituições financeiras reguladas a nível federal receberão acesso prioritário para emitir stablecoins atreladas ao dólar — efetivamente expulsando emissores offshore não regulamentados.
“Queremos operar em condições equitativas”, ressaltou Fraser, ecoando uma crítica frequente entre executivos bancários que argumentam que empresas como a Tether enfrentam menores encargos de conformidade, apesar de comandarem grandes volumes de transações.
De fato, a Tether (USDT) continua a ser a stablecoin dominante, com mais de US$ 127 bilhões em volume de 24 horas na terça-feira, de acordo com a CoinMarketCap. Em contraste, a USDC da Circle, com sede nos EUA, processou pouco menos de US$ 16 bilhões no mesmo período — uma lacuna que instituições como o Citi e o Bank of America estão ansiosas para fechar.
O Campo de Batalha dos Pagamentos: Taxas, Atritos e Liquidez
O potencial lançamento de uma stablecoin pelo Citi também é impulsionado pela demanda dos clientes por pagamentos internacionais mais baratos e rápidos. Segundo Fraser, o sistema atual ainda é atormentado por altas taxas e atrasos na liquidação, especialmente em mercados emergentes.
Embora alguns provedores de stablecoins se vangloriem de custos de transação tão baixos quanto 0,5% a 3%, Fraser disse que “agora, você está incorrendo em um custo de transação de até 7%.”
Essa diferença de custo — combinada com interoperabilidade limitada e liquidação lenta nas redes bancárias correspondentes legadas — cria um forte caso de uso para trilhos de pagamento baseados em blockchain que oferecem liquidação instantânea, disponibilidade 24/7 e lógica programável para operações de tesouraria e financiamento comercial.
Ao alavancar depósitos tokenizados e potencialmente emitir uma stablecoin, o Citi espera reduzir esses atritos enquanto mantém um monitoramento em conformidade com a regulamentação, especialmente em meio ao crescente escrutínio do Financial Stability Oversight Council (FSOC) e reguladores internacionais.
Por Que Stablecoins Agora?
Stablecoins, antes consideradas instrumentos marginais usados principalmente em exchanges descentralizadas, rapidamente entraram no discurso financeiro mainstream devido a vários fatores convergentes:
- Adoção Institucional: O fundo BUIDL da BlackRock, a PYUSD da PayPal e os programas piloto na cadeia da Visa legitimaram as stablecoins para uso em gestão de tesouraria e pagamentos.
- Progresso Regulatório: EUA e UE estão agora lançando as bases para stablecoins regulamentadas sob legislações como a MiCA da UE e o antecipado Stablecoin Act dos EUA.
- Mudanças Geopolíticas: Com a fragmentação do SWIFT e crescentes preocupações de dolarização em mercados emergentes, stablecoins oferecem um proxy do dólar que é mais rápido e acessível do que transferências bancárias.
- Maturidade Tecnológica: Melhorias no escalonamento de Layer-2 e interoperabilidade de blockchain estão tornando as liquidações de stablecoins mais eficientes e seguras.
Demanda de Varejo e Remessas: Trabalhadores migrantes e empresas estão cada vez mais dependentes de stablecoins para contornar operadores de transferência de dinheiro caros, como Western Union ou MoneyGram.
Desafios à Frente para o Citi e Emissores Institucionais
Embora a entrada do Citi possa trazer legitimidade e liquidez para o mercado de stablecoins, ela também enfrenta ventos contrários significativos:
- Risco Técnico: Construir uma infraestrutura de stablecoin escalável e em conformidade — especialmente através de jurisdições — é complexo e intensivo em recursos.
- Preocupações de Interoperabilidade: Stablecoins emitidas por bancos concorrentes podem resultar em um cenário fragmentado, a menos que padrões emergam para compensação e liquidação cruzada.
- Barreiras de Adoção: Clientes institucionais podem hesitar em adotar um novo token do Citi, a menos que alcance liquidez significativa e integração no ecossistema.
- Risco Reputacional: Qualquer problema com desagregação, lapsos de conformidade ou explorações técnicas pode refletir negativamente na marca do Citi.
Considerações Finais
O anúncio do Citi aumenta as evidências de que 2025 está se configurando como um ano decisivo para a institucionalização de stablecoins. Com gigantes bancários correndo para lançar tokens lastreados em fiat e em conformidade, o cenário das stablecoins pode em breve ser dominado por atuantes do TradFi — uma inversão dos anos anteriores, quando emissores não regulamentados lideravam a carga.
Agora, a indústria aguarda o Citi para liberar mais detalhes: Emitirá uma stablecoin pública, permissionada? Será interoperável com outras blockchains? Buscará aprovação regulatória antes do lançamento?
Quaisquer que sejam as respostas, a entrada do Citi no espaço das stablecoins sinaliza que a batalha pelo futuro do dinheiro não é mais entre bancos e cripto — mas cada vez mais dentro de um sistema misto, onde conformidade, programabilidade e liquidez na cadeia convergem.